segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Oração a Cernunnos



Oh, Senhor das Feras. Pai das criaturas livres e selvagens!


 Tu que és o Dia, resplendor da vida.


Que fecunda a Terra para que avida se faça.


Sol Divino, maior que a incerteza. Caçador soberano dos bosques encantados.


Caça abençoada do ciclo da vida. Divino Consorte da Deusa.


Onde quer que eu vá, ilumina meu caminho para que a vaidade e o orgulho não turvem minha rota.


Sê comigo, ó Cernnunos, quando os desafios abalarem minhas fibras.


Empresta-me teu vigor para que os inimigos do Bom Combate não celebrem sobre minhas cinzas.


Ensina-me a reconhecer o momento de vencer, o momento de retroceder e o momento de perder.


Assim ensinas na tua Rota Divina. Nascer, crescer, multiplicar, envelhecer, morrer e renascer.


Ó Soberano Senhor de Cornos Sagrados! Gamo-Rei de encantos invejáveis!


Entrego a ti minha espada, para que meu golpe seja Tua Lei.


Entrego-Te meu escudo, para que minha defesa seja tua vontade.


 Senhor dos Tempos, Cavaleiro de Mil Nomes, todos eles Sagrados para mim.


És a Força Masculina do Universo. O que habita em tudo e tudo está banhado pelo seu brilho.


Sou por tua Benção, o Bruxo, Guardião do Caldeirão de Cerridwen.


Assim será!



terça-feira, 5 de outubro de 2010

O Espírito Caçador, notas sobre o sagrado masculino



Ensurdecedor o silêncio das florestas, o silêncio onde mil sons começam quando o homem se cala e move-se com suavidade e cuidado sobre a pele da Grande Mãe. Pé ante pé, evitando fazer qualquer ruído, tateando o solo com os dedos, para que o menor graveto não se parta ou uma folha seca estale.
 O homem integrado à natureza, um ligado ao outro como uma só coisa, seu suor misturado ao cheiro das folhas e peles que usara no ritual de busca da caça. O ancião evocara os ancestrais do clã para a caçada, bravos caçadores se materializavam frente aos homens do clã, portando suas armas e mostrando numa dança como conquistaram os seus animais de poder. Lutas se formam na névoa de resinas que queimam no braseiro, junto a folhas colhidas pela anciã, que conhecia os segredos da Mãe.
 Embriagados e tomados pelos antepassados, os homens repetiam em gestos rítmicos as grandes caçadas feitas no passado, como quando o fundador do clã saiu com seus caçadores para criar um novo agrupamento depois de andar dias a procura de um abrigo. Faminto e cansado encontrou a caverna mãe, onde nasceram todos os ancestrais da tribo. Ele a conquistou lutando com um leão das cavernas com sua lança e faca.
 Nesta luta o Grande Caçador ganhou a marca das 4 garras do antigo proprietário da caverna, no rosto, marca que até hoje os caçadores repetiam passando os quatro dedos, molhados na tinta cor de sangue que as mulheres preparavam, riscando o rosto na transversal vindo da esquerda para a direita. Repetiam estes eventos enquanto o corpo era impregnado com os cheiros das resinas e das folhas.
 Depois o ancião vestia o couro do animal de grandes chifres e chamava as manadas e viajava através dos céus para ver o caminho que esta manada iria percorrer e a que distancia estavam, para então decidir qual o melhor ponto para interceptar os animais. Enquanto os caçadores viajavam para os feitos que fariam nesta surtida, com estes sonhos eles podiam antecipar os perigos, e na hora que ocorressem poderiam evitar o ataque dos animais.
 Ele estava preocupado. Havia sonhado que um macho galhudo o pegaria no momento que se distraísse ao enterrar sua lança numa fêmea prestes a parir, pois queria a pele macias do feto. No próximo encontro da primavera estava querendo se mudar para o clã do grande touro. Havia reparado em uns olhos verdes que sempre o seguiam nas reuniões de clãs enquanto ele disputava os jogos com os rapazes. Mas agora não estava mais ansioso pela primavera, para as brincadeiras masculinas. Este ano fora consagrado caçador, agora podia ser o dono da caça que ele abatesse, agora participaria da festa das fogueiras e, segundo seus primos mais velhos, poderia penetrar nos mistérios da criação do universo junto às fogueiras. Era muito mais que uma iniciação mística da união do céu e da terra. Era muito além disso. Era penetrar no universo e sentir o corpo macio de uma mulher. Enquanto descreviam as delícias, ele se lembrava dos olhos verdes, e dos sorrisos que a menina lhe enviava. Ele queria a pele dos fetos prestes a nascer para fazer uma pelica leve e macia para ofertar a ela nas fogueiras.
 Mas de que adiantaria matar a fêmea, se poderia ser morto pelo macho e, seu sangue a escorrer pela terra junto com o da fêmea, poderia fazer com que ele nascesse gamo na próxima vida.

Nem durante a sua iniciação ele ficara tão receoso. Fora levado vendado para bem longe e solto com apenas um pouco de comida, poucas lanças, uma faca de pedra e apetrechos de fazer fogo.
 Ele deveria voltar pra casa com uma caça, que ele sacrificaria aos deuses cortando a garganta do animal, para que o sangue empapasse a terra e voltasse para a grande mãe. Depois ofereceria o coração ao Deus da caça, montaria acampamento, conservaria a carne com fumaça e ficaria ali até que o Grande Caçador lhe indicasse o seu animal de poder e seu nome mágico.
 Agora ele era um caçador dos leões da caverna do riacho limpo, era um homem, e por mais que soubesse que não existia morte, ele gostava de estar vivo.
 Agora ele iria aproveitar as regalias de ser um caçador, participaria dos mistérios, freqüentaria os rituais masculinos, faria jornadas em busca de caças distantes. Seus feitos seriam contados nos encontros da primaveras e depois seriam levadas para as tribos distantes e sua alma nunca se perderia, pois ele estaria sempre nas conversas noturnas das cavernas e seu nome seria falado nos rituais dos ancestrais. Mas se morresse por seu orgulho de caçar a presa que buscava, e se descuidasse das suas defesas, seria logo esquecido e sua alma se perderia do clã e não mais renasceria na própria família.
 Já visualizava o rebanho se aproximando, seu corpo colado à arvore parecia ser parte dela, todos os seus sentidos estavam voltados para a caçada, seus músculos retesados e prontos para o ataque enquanto na sua mente os gestos e movimentos dos seus antepassados tantas vezes dançados nos rituais estavam incorporados dentro dele, como se uma cadeia interminável de vidas o levassem ao primeiro caçador, ao Grande caçador, o Deus que diferenciou os homens dos animais, o Deus que ensinou que os homens podiam se alimentar melhor caçando e que salvou a espécie da extinção. Com ele aprenderam a criar suas armas, o código silencioso usado pelos grupos que substituíam os gritos e as palavras, e que permitiam que cercassem e se aproximassem mais da caça sem assustá-la.
 Ele agora era o Deus, seus pés plantados no chão o ligavam à terra, seu corpo era como uma mola comprimida, pronta para distender-se e voar em direção à presa e arremessar certeiramente sua lança com a ponta afiada no fogo. O deus caçador estava nele, não importava mais a vida ou a morte, agora a sua mente só pensava em escolher o alvo, pois o clã precisava da carne para continuar forte, alimentando suas mulheres e crianças, para que novos caçadores crescessem fortes e pudessem manter o nome da caverna mãe com honra.
 Paro aqui para dizer que ainda temos no masculino este espírito caçador, ainda temos em nós o deus da caça e no fundo de nossas mentes ainda existem gravadas as danças e os movimentos da caçada. Ainda podemos ser unos com a natureza, e por mais civilizados e com todos os controles sociais que mascaram a nossa identidade selvagem, nem todo o controle imposto pelos impérios da antiguidade, nem os 2.000 anos de cristianismo apagaram em nós o espírito pagão, a divindade que existe no masculino.



O Espírito Caçador está vivo e forte em cada homem, basta a nós deixa-lo fluir.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Tradições Masculinas

Tradições Masculinas


Os mistérios masculinos sempre tiveram seu lugar em muitas expressões da religião pagã. Para um Pagão, a espiritualidade masculina é respeitada como uma expressão do Deus em suas muitas formas. Homens pagãos buscam inspiração no Deus de Chifres e em outros aspectos da Divindade masculina, procurando alcançar dentro de si mesmos uma visão de sabedoria, força e amor. O Movimento Masculino é uma força de união em todo o mundo, constituindo uma expressão mais abrangente de uma espiritualidade masculina recém-desperta. Os homens estão questionando os papéis que a sociedade lhes atribui, procurando em seu interior por uma nova compreensão do espírito masculino.

Em busca de uma espiritualidade masculina mais profunda, as tradições masculinas de expressão espiritual assumem diversas formas. Alguns homens trabalham nas tradições pagãs estabelecidas, ao passo que outros criaram grupos específicos de mistérios masculinos, dedicados a explorar a relação dos homens com o Divino. Alguns grupos de mistérios masculinos voltaram-se para mitos antigos e tradições de sociedades tribais, outros para os cultos iniciáticos pagãos, tais como o de Mitra, o Deus das legiões romanas. Alguns outros baseiam seu trabalho na obra literária de R. J. "Bob" Stewart.
 Dois homens que têm tido uma forte influência em como outros estão buscando encontrar-se são o psicólogo John Rowan, com seu livro "The Horned God", e o poeta e autor Robert Bly, com seu best seller "Iron John". Ambos são colaboradores em "Choirs of the God", um livro que explora a espiritualidade masculina.
 
"A busca de imagens masculinas alternativas inicia, para muitos homens, com os Deuses pagãos e as figuras míticas suprimidas pelo cristianismo. A mitologia celta e o Ocultismo ocidental formam a base de muitas das tentativas recentes de revisar a masculinidade. Sentir o 'Poder Masculino na Terra' ou contatar 'O Deus Interior' esclarecem a realidade da masculinidade no mundo moderno, enquanto nos fornecem visões — do passado, do inconsciente, do reino dos Deuses — de um modo diferente de ser homem."

 
Por John Matthews ed., Choirs of the God: Revisioning Masculinity, Mandala, 1991.


O Deus Triplice

O Deus Triplice


Conectar-se diretamente com o Deus é de suma importância no resgate de qualidades humanas esquecidas no tempo.
A exemplo da importância do número 3, o Deus também apresenta seu tríplice aspecto, cada qual com sua importância em relação à formação do homem social.

 
Passemos a Eles:

 O Cornífero

Freqüentemente chamado de o Doador da Vida, Mestre da Morte e Ressurreição, Deus das Sementes, Deus da Fertilidade.
Pode ser reconhecido como Cernunnos, Pã, Adônis e Osíris. Ele também é o Inefável.

Retratado incontáveis vezes em paredes de cavernas que datam do Paleolítico, bem como em expressões artísticas e religiosas das mais diversas civilizações, o Cornífero sempre foi o símbolo maior do Divino Masculino.

Os Chifres sempre foram o sinal pagão de algo Divino. Na Babilônia, por exemplo, o grau de importância dos Deuses era entendido ao número de chifres a Ele atribuídos. Alexandre, o Grande, declarou-se Deus ao tomar o trono do Egito tendo encomendando uma pintura sua ornada de chifres. O Alcorão faz menção a Alexandre como “Inskander Dh’l Karnain”, que significa “Alexandre dos Dois Chifres”. Uma alusão ao seu nome é preservada até hoje em tradição Alexandrina, na qual, Deus é chamado de Karnayana.

A interação com a Fauna mostra-se uma vez que o Deus Cornífero não é só o aspecto do Caçador, mas também é visto como sendo a própria caça. Nesse aspecto ele deve ser reconhecido como o animal do sacrifício, sacrificado para que possamos sobreviver durante os períodos de Samhain. Nessa faceta, o Deus também apresenta um lado mais obscuro. Um outro nome dado ao Deus Cornífero é “O Caçador”. O Grande Deus não só é um símbolo doador da vida, mas na sua retirada também, onde podemos perceber o eterno ciclo de nascimento, morte e renascimento. Ele às vezes é representado carregando um arco de caça.

Durante a expansão do cristianismo, cristãos adotaram a imagem do Deus Cornífero para a representação do seu diabo, cuja descrição física incluía os pés de animal e os chifres. Com essa atitude, a Igreja Cristã tentava demonstrar ao pagão que sua fé no paganismo era ruim, má. Porem, o diabo é a representação do Mal Absoluto, enquanto o Deus Cornífero não é visto dessa forma. O Cornífero é uma força da natureza, não completamente beneficente ou maleficente. No seu papel de Pai, Ele dá a vida. Já em sua morfologia de Caçador, Ele a toma, em forma de sacrifício necessário para a continuidade da raça.

Os primeiros clãs humanos sobreviveram graças, em grande parte aos caçadores e guerreiros. Caçava-se o gamo, que fornecia o alimento, agasalho e instrumentos confeccionados com chifres e cascos. O alce de tornou um símbolo de previsões, e na sua natureza de líder e protetor da amada, os caçadores primitivos identificaram algo próprio do clã. A rivalidade entre os machos pelas fêmeas, era, em muitos aspectos, simbólica das paixões com que os próprios homens lutavam. Resgatar a face conífera do Deus é um resgate dos Mistérios Masculinos.

Já escrevia o grande mitólogo Joseph Campbell em seu trabalho “Primitive Mythology”:

“Para os primitivos povos caçadores, os animais selvagens eram manifestações do desconhecido. A fonte de perigo e sobrevivência foi associada psicologicamente à tarefa de compartilhar o mundo silvestre com esses seres. Ocorreu uma identificação inconsciente, que se manifestou nos místicos totens meio humanos, meio animais das antigas tribos. Os animais tornaram-se tutores da humanidade. Por meio de imitações, as naturezas separadas de humanos e animais foram derrubadas e criou-se a União. O mesmo é verdade acerca das posteriores comunidades agrícolas, que viram os ciclos de vida e morte dos humanos refletidos nos ciclos das colheitas”.

O Green Man

 Quando adentramos nas sombras da floresta mística, encontramos um rosto que olha fixamente para nós: o Green Man, mascarado com folhagens e galhos que formam seu rosto e saem de sua boca. O Green Man é um símbolo pré-cristão encontrado gravado na madeira e na pedra de templos e sepulturas pagãs, de igrejas e de catedrais medievais, e usado como ícone arquitetural da era Vitoriana, em uma área que se estende da Irlanda até o Leste da Rússia. Embora encontrado geralmente como um antigo símbolo celta, na verdade, suas origens e o significado original são encobertos no mistério. O nome data de 1939, quando a senhora Raglan (folclorista) encontra uma conexão entre as caras folhadas das igrejas inglesas e os contos do homem verde (ou “Jack, o verde”) do folclore irlandês.

Ele é o Mestre da Colheita e de toda a Natureza cultivada. Está relacionado aos grãos e ao desenvolvimento da agricultura. É o dominador da vida e do crescimento das plantas. Ele é nossa parcela do sátiro que nos traz alegria, a felicidade. Esta associado aos excessos e ao êxtase provocado pelo vinho, tão sagrado pelas culturas primitivas.

Nessa face, Ele assume vários papeis, principalmente o de Filho, e Amante da Deusa.

Diversas deidades ao longo da história humana representaram bem as características do Green Man. Abaixo, demonstramos algumas delas:

Dionísio Deus do vinho e da vegetação, que mostrou aos mortais como cultivar as videiras e fazer vinho. Foi identificado como o romano Baco.

Filho de Zeus, Dionísio normalmente é caracterizado como um deus da vegetação especificamente das arvores frutíferas - freqüentemente, representado em vasos bebendo em um chifre com ramos de videira.

Ele eventualmente tornou-se o popular deus do vinho e da alegria, e milagres do vinho eram reputadamente representados em certos festivais de teatro em sua homenagem. Dionísio também é caracterizado como uma divindade cujos mistérios inspiram a adoração ao êxtase e o culto às orgias. Estas celebrações frenéticas, que provavelmente se originaram com festivais primaveris, ocasionalmente, traziam libertinagem e intoxicações. Essa foi uma forma de adoração pela qual Dionísio tornou-se popular no séc. 11 a.C., na Itália, onde os mistérios dionisíacos eram chamados de Bacanália e, posteriormente, bacanais (os quais hoje, são sinônimo de orgias). As indulgências das Bacanálias se tornaram extremas e as celebrações foram proibidas pelo Senado romano em 186 a.C. Entretanto, no séc. I d.C., os mistérios dionisíacos eram ainda populares.
 Sileno: O sátiro Sileno era um seguidor fiel de Dionísio. Gordo, feio e beberrão, Sileno era extremamente sábio e passou grande parte de sua sabedoria ao deus. Nos festejos, costumava estar bêbado demais e recebia ajuda de alguns sátiros, ou seguia no lombo de um asno. Seus homônimos, os silenos, eram seres com aspectos de sátiros.

O Ancião

O Ancião é a ultima das faces do Deus e personifica a fonte máxima do conhecimento. É o senhor da Magia e da Morte. É ele que conduz os espíritos dos homens a Summerland. Está relacionado ao princípios dos tempos quando tudo era “escuridão”. Conhece todos os segredos do Universo. Está relacionado ao renascimento e à ligação com os outros mundos. É a face ancião que reverenciamos em Samhain.

Nessa época, com sua sabedoria infinita reconhecemos a importância da Morte como decorrência da vida. Segura em suas mãos o cajado, o elo de ligação entre a terra e o céu. Entre o sólido e o etéreo. Mede seus passos com o cuidado do conhecedor dos caminhos e de como podem ser traiçoeiros.

Devido ao aspecto idoso, é a personificação que representa o conhecimento de todos os mistérios que só a experiência pode proporcionais. É o Deus da Sabedoria, do bem e do mal não-absolutos. É a ele quem devemos recorrer e reverenciar nos momentos de dificuldade e anulação de qualquer tipo de malefício. Ele é o Deus da paz e do caos. Da harmonia e da desarmonia. O Ancião já passou pela jovialidade e energia do Cornífero, e pela maturidade, entusiasmo e força animal do Green Man. Acumulou toda a experiência que só o tempo pode proporcionar e distribuir a sabedoria por todo o mundo.

Alguns Deuses podem ser associados ao Ancião:

Dagda: O “Deus Eficaz” é o nome pelo qual era chamado o deus-chefe Eochaid Ollathair. Dagda era uma deidade dos magos, é o primeiro e o mais poderoso, grande guerreiro, habilidoso artífice, e o mais esperto de todos que possuem a vida e a morte.

Teutates: O Deus da intuição e do conhecimento celta.

Conhecer e, principalmente, alinhar-se à energia da Deusa e do Deus, representados em seus aspectos tríplices, é um desenvolvimento fundamental a qualquer um que queira sentir e principalmente compreender a Wicca.


Fonte: Wicca A Bruxaria Saindo das Sombras - Millenium






quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Deuses:. Raízes Antigas

Deuses:. Raízes Antigas


Ao iniciarmos nossos estudos na Arte Antiga e no paganismo celta, a primeira sensação que nos advém é de que estamos despertando para algo novo, mas na realidade estamos nos religando às antigas raízes pagãs, à verdadeira religião da natureza e da unidade, pois o nosso caminho é baseado na crença de Deuses e Deusas.
 Algumas pessoas, inicialmente, sentem uma certa dificuldade em relação à conexão com as Deusas. Isto acontece, principalmente, por conta de toda a influência da sociedade patriarcal dominante durante milênios, assim como pela manipulação da Igreja, para controlar o indíviduo através do medo e do "pecado". Tudo isso é tão forte que, às vezes, chega a causar crises de consciência e muito desconforto, tamanhos são os dogmas impregnados no ser.
 A Deusa Mãe é a essência feminina que foi reprimida durante a cristianização, principalmente para controlar o poder sobre a criação, ou seja, sobre a nossa criatividade e, assim, restringir a nossa liberdade. Não estamos aqui nos referindo a Jesus que, no nosso modo de ver, foi um grande Mestre e, tampouco, ao feminismo.
 O culto aos Deuses é conhecido, como: Antiga Religião, Caminhos Antigos ou, simplesmente, Arte Antiga e não se caracteriza como uma filosofia de vida. É, acima de tudo, uma religião e um caminho, muitas vezes, solitário de autoaprimoramento e autoconhecimento, que respeita à natureza, o próximo e principalmente a si mesmo.

Devido ao preconceito e a falta de informação, muitas pessoas ainda confundem paganismo com feitiçaria ou magia negra. Isso não é correto. E que fique bem claro: paganismo nada tem a haver com satanismo, magia negra ou qualquer outra cor que queiram denominá-la!
 Um dos ramos do paganismo que mais se popularizou foi a Wicca, idealizada por Gerald Gardner. Ressaltamos que a Wicca não é celta, pois reúne em si várias influências de outros panteões, além de trabalhar princípios herméticos com uma ritualística própria. Mas, que merece todo nosso respeito como um ramo pagão da Grande Mãe.
 Os caminhos pagãos que hoje, na essência, mais se aproximam dos antigos celtas são: o Druidismo e o Reconstrucionismo Celta.
Os celtas eram politeístas e adoravam inúmeros Deuses. Eles não possuíam o conceito de um Deus único, portanto, sua religião, ainda que diferente, guardava semelhanças básicas com a dos outros povos indo-europeus, viam os ciclos da natureza e a própria fertilidade num contexto comun, respeitando-os como um Todo, por isso cultuavam suas deidades ao ar livre.

A maioria das lendas e dos mitos celtas nos revelam a existência do Outro Mundo, oculto entre colinas, lagos, rios, névoas e bosques sagrados. Avalon é uma lenda, que através da ficção romanceada de Marion Zimmer nos leva aos textos de Mabinogion, Geoffrey de Monmouth, além dos contos mitológicos do Ciclo de Ulster, a Viagem de Mael Duin ou a Jornada de Melduin e os Immramas Sagrados, preservando assim todo o conhecimento ancestral deste povo.
Todavia, não devemos confundir a história com os princípios pela busca da espiritualidade, pois a nossa religiosidade não está apenas comprovada em fatos arqueológicos que, neste caso, servem para reforçar ainda mais, que as religiões politeístas buscam honrar os Deuses e equilibrar as energias da natureza dentro de nós, dando-nos a esperança de viver num mundo melhor e mais justo.
 Lembrando que, do ponto de vista da história das religiões, existem apenas três religiões monoteístas: o islamismo, o judaísmo e o cristianismo. Sendo assim, todas as demais religiões da pré-história, até a atualidade, são conhecidas como politeístas.

As crenças pagãs começaram a tomar forma na era paleolítica, aproximadamente há vinte e cinco mil anos atrás. Neste período, o ser humano era nômade, suas fontes de subsistência, basicamente, vinham da caça e da colheita. Além do mais, tudo era muito misterioso e assustador para eles, naquela época, como: o trovão, o sol, a lua e a escuridão.

O mundo era um lugar cheio de grandes perigos e forças estranhas, que deveriam ser temidas, respeitadas e reverenciadas. Com o tempo, o conceito dessas forças foi evoluindo para a idealização dos Deuses. Um dos primeiros e, o mais importante Deus primitivo, foi possivelmente Cernunnos, o Deus de Chifres, formando na mente do homem antigo, a idéia de um Deus da Caça com chifres, simbolizando a força e o poder, mas, erroneamente comparado ao 'diabo' na visão judaíco-cristã.

Contudo, não era apenas de caçadas que a tribo sobrevivia, havia o grande mistério da fertilidade. As tribos precisavam perpetuar a espécie e de tempos em tempos, a barriga das mulheres crescia e, no final de algumas luas, surgia mais um novo membro para a tribo. No inicio frágil e pequeno, mas com o passar dos meses crescia, tornando-se um ser grande e forte, dando garantia e continuidade às futuras gerações.

A mulher era a chave de todo esse mistério, um ser enigmático, que além de sangrar todo mês, sem que viesse a falecer. Ela era a responsável pela continuação do clã e também pela alimentação dos seus filhos, com o leite do seu próprio corpo.
 A partir dessa observação, surge então a Deusa da Fertilidade, dando origem às várias esculturas de figuras pré-históricas, como a famosa escultura de Vênus de Willendorf, destacando-se pelos seios enormes, o ventre volumoso e a vulva protuberante. Posteriormente, encontramos relatos sobre Dana com uma Deusa da fertilidade, considerada a mãe dos Deuses irlandeses.


"Mesmo na guerra as Deusas são proeminentes na Irlanda. Deuses celtas e os heróis são freqüentemente chamados depois do nome de suas mães e não de seus pais, e as mulheres em grande parte dos contos irlandeses, desempenham um papel muito importante. As Deusas dão seu nome aos grupos dos Deuses, suas ações são livres e sua personalidade é claramente definida." J.A. Macculloch - A Religião dos Antigos Celtas.
 Enfim, o paganismo é uma religião politeísta, que honra diversos Deuses e Deusas. Não existe o conceito de apenas uma única deidade, pois temos a visão da natureza como a Grande Mãe, embora ela não seja uma deidade específica, Ela é, para nós, a fonte criadora de toda a vida, de onde tudo veio e para onde tudo rertonará, inclusive os Deuses. Bênçãos plenas!

terça-feira, 13 de julho de 2010

O Deus dos Pagãos

O Deus dos Pagão



O Deus realmente é deixado de lado muitas vezes nos cultos pagãos, como se a energia da Deusa pedisse essa dedicação exclusiva. Isto é verdade em parte, porque, não é possível cultuar o Deus adequadamente enquanto não mergulharmos na Deusa e nos despirmos do Deus do patriarcado.

Quando no curso de nosso caminho - e isso demora até anos (mas vaira muito de pessoa para pessoa) - está na hora do Deus voltar, a própria Deusa nos mostra seu Filho, Consorte, Defensor, Ancião. O Deus aparece, tríplice como a Deusa.
 O Deus Jovem é, antes de tudo, a Criança da promessa, a semente do sol no meio da escuridão. Depois, é o Garoto do Pólen, o fertilizador em sua face mais juvenil, e traz a energia da alegria de viver, o poder de se maravilhar ante as descobertas da vida, é o experimentador, a face mais sorridente do sol matinal.

Daí surge o Deus Azul do Amor, o rapaz que cresceu e chegou na adolescência e desabrocha em beleza e masculinidade, é o Jovem Deus da Primavera, percorre as Florestas e acorda a natureza. Ele é o Apaixonado, aquele que primeiro busca a Deusa como a Donzela e propicia o encontro... Ele é o Deus da sedução ainda inocente, que não conhece os mistérios da Senhora ainda... ele é toda possibilidade.

Depois ele é o Galhudo e o Green Man... O Deus é o macho na sua plenitude, O Senhor dos Chifres que desbancou o gamo-rei anterior, ele é força e poder, músculos e vitalidade, ele cheira a sexo e promessas. Ele é o Grande Amante, atraído irresistivelmente pela Senhora ele é o Provedor, o Sustentador, o Senhor Defensor. Ele é o Senhor das Coisas Selvagens, o Deus da Dança da Vida, O Falo Ereto, O Fertilizador. Como Green Man ele também é o Senhor da Terra e sua abundância, o parceiro da Senhora dos Grãos. O Senhor dos Brotos, aquele que cuida dos frutos e os distribui pela terra.

Mas o Deus é também O Trapaceiro, o Senhor da Embriaguez, o Desafiador e o Ancião da Justiça. Ele nos faz seguir um caminho e nos perdemos para conhecer o pânico de Pan... ele nos deixa loucos como Dionisio, ou perdidos nos devaneios de Netuno... ele é o Desafiador, seja nos duelos, seja na guerra, na luta pela sobrevivência... ele é caprichoso e insidioso, ele nos engana, nos deixa desesperados e sorri - porque esse é seu papel; estimular o novo, mostrar que nosso desespero é inútil e só nos escraviza...

Como a Deusa, Ele está na fome e no fim da fome, na vida e na doença terminal, na luz e na sombra, no que é bom para você e no que é mau... A Deusa nunca está só, ela tem sua contraparte masculina e, no entanto, Ele só existe por amor a Ela... alias, todos nós somos fruto dessa dança de amor. O Deus é o Ancião sábio, o distribuidor da Justiça, seja a que se impõe com sabedoria ou raios... Ele conhece os segredos dos oráculos, mas sabe que são Dela... ele é o repositório do conhecimento, mas a sabedoria é Dela... ele lê os sinais da natureza, mas sabe que quem os escreve é Ela.

E o velho sábio vai murchando e se transforma no Senhor da Morte... ele que é o Senhor de Dois Mundos, pois no ventre dela, de volta, ele vive sua morte e a própria ressurreição. Mistério e segredo, morte e retorno, Ele é o que atravessa os portais dos quais Ela é a Senhora. Ele, o Caçador, que também faz o papel de Ceifador... Ele que ronda o leito dos moribundos e dança a dança da morte. O Senhor dos esqueletos.

Ele que na dança da morte retoma o brilho do sol e sua face negra se ilumina, em uma explosão impossível de conter, e Lugh nasce outra vez...

Ele que é Pai, Filho, Bebê Iluminado, Amante Selvagem, Sábio Educador... ele, o Deus que se revela apenas pela Deusa.

Cernunnos

Cernunnos



Quem é ele afinal?


Cernunnos é representado como uma criatura quimérica cujo o culto que remonta a época correspondente se muito o início da Idade de Bronze, cujo o nome se supõem foi conferido muito após ter sido fixado a crença devocional nesta divindade a partir de uma imagem encontrada num baixo-relevo em Paris que reproduzia um homem sentado de pernas cruzadas que ostentava chifres na cabeça onde lia-se abaixo a inscrição ´´ ( C ) ernunnos ´´

Nas narrativas míticas a figura de Cernunnos como personagem é bem confusa já que existem momentos onde ele é descrito ao lado de uma figura feminina com poderes sobrenaturais sobre a Natureza que figura por vezes como sendo sua ´´mãe´´ e em outras é identificado como sua ´´esposa ´´ o que dá a vaga impressão da presença de um relacionamento incestuoso.

Para simplificar a compreensão do mito ficamos restritos ao que o poeta latino Marco Anneo Lucano ( 39/65 d.C) narra em breves passagens em ´´Pharsalis´´ , cujas as fontes históricas prováveis foram Tito Livio, Asinio Pollione e Sêneca , a saber que Cernunnos nasce sem chifres e reina no submundo de onde ajuda a comandar com sua ´´esposa´´( alguns a identificando sob o nome de Epona e outros como ´´ Dana´´ ) a vegetação e os animais até que em certo momento é traído por ela com ´´Esus´´ e dali surge uma ´´galhada´´ de cervo em sua cabeça.
 A oportunidade desta traição surge por conta do fato que Cernunnos para cumprir com seus deveres tem que sempre durante certo tempo do ano recolher-se ao reino subterrâneo, deixando sua ´´esposa´´ sozinha por um longo período.
 Observando que Lucius menciona no caso não bem diretamente ´´Cernunnos´´ e sim o amante fugaz de sua esposa a saber ´´ Esus / Albiorix ´´ onde o cita também sob a alcunha curiosa de ´´ Rei do Mundo´´ e sendo parte de uma espécie de´´trindade´´ em que figuravam ao seu lado de ´´Toutates / Teutates ´´ como uma espécie de ´´deus da guerra´´ e ´´Taranis / Caturix ´´ na condição de ´´Rei das Batalhas´´, fato que é curioso de analisar na medida em que vemos o mito de Cernunnos ter conotações mais que óbvias com assunto afetos mais fertilidade de maneira geral e agricultura de forma especifica do propriamente como tendo algo haver com batalhas , guerras e assuntos assemelhados como estas outras divindades citadas remontam arquetipicamente.


A sua verdadeira origem

O que surpreende logo de cara o mito de Cernunnos ao analisar comparativamente a mitologia celta é que ela não usa como recurso de enredo a figura de seres quiméricos, isto é, volta e meia até um personagem se ´´transmuta´´ em forma animal só que nenhum é representado como tendo parte humana e outra animal ao mesmo tempo.

Igualmente , a lenda em parte recorda o mito greco-romano de Hades e Perséfone / Proserpina onde ela passa metade do ano com sua mãe na superfície ( Ceres /Deméter ) e a outra parte no mundo subterrâneo ao lado de seu esposo. Havendo é claro claras reverências a todo uma simbologia também vinculada a temas de fertilidade, agricultura, mudanças de estação e etc neste mito greco-romano . Seria coincidência?

Graças a arqueologia um pouco do mistério ao redor da figura tão deslocada de Cernunnos vai aos poucos , a saber a suposição básica era que Paris tinha sido fundada por uma tribo celta ( os Parise ) que depois foi melhorada pelos romanos a partir de sua conquista por volta de 52 a.C caí por terra para ceder lugar a constatação de que a cidade foi na verdade erigida por completo pelos romanos desde o inicio.
 Isto somado com a constatação que gregos pelo menos na região de Marselha e redondezas desde o século V a .C figura como bem provável que o culto ao deus cornifero tenha sido trazido embrionariamente para região através dos gregos e depois apossado pelos romanos que deram as narrativas sua conotação guerreira , surgindo depois os celtas ( ou melhor os parisi ) para incorporarem sincreticamente em seu corpo de crenças a figura de Cernunnos.

Outra alternativa além dos gregos que surge é que ligures ou etruscos tenham trazido sua contribuição para a formação da imagem do ´´deus chifrudo´´ na medida em que é uma imagem típica de divindade vista entre povos que viviam da criação de caprinos e pastoreio bem como também eram povos que margeavam a região.